Quando pensamos em plantas, só o que vem à nossa cabeça é a possibilidade delas conseguirem seus nutrientes pelas raízes (água e minerais) e também da fotossíntese. Isso confunde, quando, por exemplo, vemos uma planta que se alimenta de outros animais.
As chamadas plantas carnívoras ou, na sua maioria as plantas insetívoras, são plantas com a capacidade de atrair pequenos animais, incluindo insetos (principais presas), aracnídeos e até mesmo anfíbios, répteis e aves, capturar (através de armadilhas compostas por folhas modificadas), digerir (através de enzimas digestivas) e utilizar os nutrientes (principalmente compostos nitrogenados) de suas presas.
Habitam geralmente solos pobres, encharcados e ácidos (baixo pH) com pouca disponibilidade de nitratos (essenciais para a síntese da molécula de clorofila), dependendo assim do nitrogênio contido nas proteínas dos animais, mas, como todo vegetal, é dependente da energia proveniente da luz para sobreviver.
As plantas carnívoras ocorrem predominantemente na faixa tropical do planeta, ocorrendo grande biodiversidade nas Américas, Austrália e Sudeste Asiático. Um menor número de espécies ocorre no sul da Europa e da África, sendo que as mais bem adaptadas ao seu habitat de ocorrência são encontradas em locais inóspitos como o Alasca, Escandinávia e deserto australiano.
Plantas carnívoras
Como já foi dito acima, tais plantas capturam e se alimentam de insetos e outros animais, para conseguir energia, pois vivem em solos pobres em nitrogênio e a proteína da presa é essencial para produzir compostos essenciais que participam de diversas reações que mantém a planta viva, sendo um destes processos a fotossíntese.
Portanto, estas plantas realizam fotossíntese como tantas outras plantas. A captura é feita por folhas modificadas, mas ela ainda mantém células com cloroplastos. As únicas plantas que não fazem fotossíntese não tem a cor verde característica da clorofila e vivem parasitando outras plantas para sobreviver (Monotropa uniflora e cipó-chumbo).
Como funciona o mecanismo de captura?
Como existem diferentes famílias (Nepenthaceae, Sarraceniaceae, Droseraceae e Lentibulariaceae) que são as principais e outras com algumas espécies que têm este hábito, também existem diferentes mecanismos de captura. Estas folhas modificadas produzem químicos que atraem as presas e também apresentam estruturas pegajosas que capturam elas.
Algumas formam estruturas foliares em forma de poço onde o inseto ou outro animal não consegue sair ou como em algumas espécies que têm um mecanismo sensível ao toque que, através da perda de água, faz com que a folha se feche e pronto, adeus para o bichinho. Ele será digerido por enzimas que vão dissolver todo o material orgânico, disponibilizando as moléculas necessárias para a sobrevivência da planta.
O interessante é ver que vários tipos diferentes de plantas que não têm nenhuma relação de parentesco evolutivo apresentam tal hábito. Isto quer dizer que plantas insetívoras e/ou carnívoras apresentam uma evolução paralela, em que esta adaptação apareceu diversas vezes durante a história evolutiva. A isto chamamos convergência evolutiva.
As famílias
Nepenthaceae
É uma família de plantas carnívoras angiospérmicas (plantas com flor). O grupo é monotípico e conta apenas com um gênero, Nepenthes, que ocorre nos trópicos do Velho Mundo, nomeadamente no sul da China, Indonésia e Filipina, Austrália Índia e Nova Caledônia.
As plantas desta família possuem na ponta de suas folhas estruturas semelhantes a jarros, sendo na verdade continuações da própria folha modificadas, com as bordas do limbo unidas formando uma ânfora.
Sobre a abertura desta ânfora encontra-se uma estrutura semelhante a uma “tampa”, normalmente colorida, servindo de proteção estática para que a armadilha não se encharque. Isso faz com que apenas uma porção de líquido encontre-se em seu interior, e é neste líquido que insetos, aranhas e mesmo pequenos pássaros ficam presos ao escorregarem para dentro do tubo – atraídos pelas cores e pelos odores segregados pelas glândulas situadas na base da tampa.
Uma vez dentro, uma parede cerosa e pêlos no interior da folha voltados para baixo evitam que esta possa ser escalada, e ali os animais são digeridos. Esta família possui os maiores espécimes de plantas carnívoras, e tem a forma de uma trepadeira (sendo que a estrutura entre a folha e a armadilha atua na sustentação da planta, de maneira análoga às gavinhas das videiras).
Esta família possui algumas das maiores espécies de plantas carnívoras e tem a forma de uma trepadeira, sendo que a estrutura entre a folha e a armadilha atua na sustentação da planta, de maneira análoga às gavinhas das videiras.
Sarraceniaceae
É uma família de plantas angiospérmicas (plantas com flor). O grupo compreende 15 espécies, classificadas em três gêneros de plantas carnívoras. As sarraceneáceas atraem as presas através do cheiro característico do seu néctar e aprisionam-nas dentro de folhas de formato tubular, cheias de água e enzimas digestivas (bactérias no caso de Darlingtonia).
Os gêneros Darlingtonia e Sarracenia são oriundos da América do Norte, enquanto que as espécies de Heliamphora são nativas da América do Sul.
As Sarraceneáceas crescem em solos pobres em nutrientes, de características ácidas, e usam os insetos capturados como suplemento nutricional. São plantas perenes, que crescem todos os anos a partir de um rizoma e que desaparecem durante o Inverno.
Esta família consiste de plantas carnívoras com folhas saindo de um rizoma subterrâneo, folhas estas unidas pelas bordas formando um comprido jarro, semelhante à família Nepenthaceae. São encontradas na sua maioria em climas temperados, e entram em um período de dormência nas épocas mais frias do ano.
Algumas espécies de aranhas-caranguejeiras podem viver em suas armadinhas para caçar suas presas, mas como apenas sugam os fluidos dos insetos, nem a planta nem a aranha saem prejudicadas.
Droseraceae
É uma família de plantas angiospérmicas (plantas com flor). A ordem à qual pertence esta família está por sua vez incluída na classe Magnoliopsida (Dicotiledôneas): desenvolvem, portanto embriões com dois ou mais cotilédones.
As droseráceas são plantas carnívoras que se alimentam de uma forma singular, as plantas possuem gotículas de uma substância pegajosa em suas folhas e caule, de modo que se um inseto pousar nela, a planta se dobra na região em que o ser pousou e suga os seus corpos.
A família abriga os gêneros Drosera, Dionaea e Aldrovanda (Aldrovanda vesiculosa). As plantas do gênero Drosera, o único da família com mais de uma espécie, possuem tricomas glandulares (”tentáculos”) que recobrem principalmente suas folhas e que, ao secretarem uma substância pegajosa, atraem suas presas. Estas ficam aprisionadas nas armadilhas adesivas onde morrem e são lentamente digeridas, tendo os nutrientes de seus corpos absorvidos pela superfície das folhas. O gênero Dionaea é composto apenas pela espécie Dionaea muscipula, a popular “papa-moscas”.
Lentibulariaceae
É uma família composta por aproximadamente 340 espécies de plantas carnívoras, fragmentadas em 3 gêneros, Pinguicula, Genlisea e Utricularia, com ocorrência principalmente nas regiões tropicais e temperadas.
Frequentemente são responsáveis por formarem grandes populações em áreas de brejo, sendo assim complementam a massa de matéria orgânica, nesses ambientes, indicando sua grande importância ecológica. No Brasil a família está representada pelos gêneros Genlisea e Utricularia. Destacamos o gênero Utricularia, com aproximadamente 220 espécies distribuídas por todo o mundo, exceto em regiões áridas e ilhas oceânicas, ocorrendo em sua grande maioria na América do Sul..
Essa família apresenta tricomas do tipo glandular ou sésseis. Tricomas que são encontrados em toda a folha. As suas folhas são alternas ou verticiladas, ausência de estípulas. Possui inflorescências que são racemos terminais, as vezes resumidas em uma única flor.
Apresentam flores bissexuais, com cálice com quatro a cinco sépalas e corola bilabiada. A antera possui apenas um lóculo e o ovário sincárpico, com placentação central-livre e ínfero.
O gênero Pinguicula pertence à família Lentibulariaceae, mas possui estratégia parecida com as Droseras. Esta família também possui estratégias passivas e ativas. Em Utricularia, gênero de plantas basicamente aquáticas, a maior parte das folhas (senão todas) são submersas e extremamente modificadas em filamentos muito ramificados.
Em alguns pontos destes filamentos, encontram-se pequenas câmaras vazias, seladas por uma válvula e guarnecidas por pêlos. Larvas ou animais planctônicos, ao encostarem nestes pêlos, detonam um processo semelhante ao da Dionaea, abrindo a válvula e provocando uma súbita corrente de água para o interior das câmaras, carregando o animal consigo, onde ele será digerido.
Outras famílias
Além destas quatro famílias, há plantas carnívoras menos conhecidas em outras famílias:
Cephalotaceae
É uma família cuja única espécie é Cephalotus follicularis. Esta espécie possui uma elaborada, mas pequena, armadilha do tipo ânfora (uns poucos centímetros no máximo), e está restrita ao sudoeste da Austrália.
Drosophyllaceae
Essa família inclui o Drosophyllum lusitanicum, uma planta carnívora endêmica de Portugal, Espanha e norte de Marrocos.
Há também algumas espécies de Bromeliaceae, como a Brocchinia reducta e Catopsis berteroniana, que são reconhecidamente plantas carnívoras.
As Bromélias são monocotiledôneas, e como são naturalmente plantas coletoras de chuva pela forma de sua folhagem, e muitas espécies são epífitas e coletam detritos (Bromélia tanque), não é de se espantar que algumas tenham desenvolvido um hábito em direção à carnivoria ao adicionar cera, glândulas digestivas e pêlos voltados para baixo à sua estrutura.
Como a maioria das carnívoras, Cephalotus e Bromélias carnívoras são encontradas em regiões de solos pobres (ou com deficiência de nutrientes, como ocorre com as bromélias epífitas), alta luminosidade, muita umidade e incêndios naturais regulares ou outras perturbações do habitat. Elas realizam a fotossíntese, mas mesmo assim precisam se alimentarem de animais pequenos para suprir suas necessidades biológicas, esses insetos possuem nitrogênio, muito importante para a planta, e a fotossíntese fica responsável pelos açúcares.
Como a presa é atraída?
Na hora de atrair a presa, a planta carnívora se utiliza de um tipo muito particular de estratégia. O odor mais forte e a cor vibrante são elementos muito centrais nesse momento. Porém, quando se trata de um animal, não é suficiente apenas apostar na cor e cheiro. Assim, a planta carnívora se vale do próprio corpo. Como? Adequando sua folhagem para que esta se torne uma espécie de armadilha.
Em todo o mundo, há pesquisas que apontam para a existência de quase 600 espécies de plantas com esse padrão. A diversidade de armadilhas é bem ampla: há algumas folhas que se fecham, outras liberam substâncias e líquidos pegajosos que tornam a presa cativa. Há ainda as plantas que se revestem de pelos “colantes”.
Mais recentemente, a ciência catalogou uma espécie de carnívora que possui folha pegajosa abaixo do solo. Assim, consegue capturar germes. Chamada de Philcoxia minensis, pode ser observada no Cerrado brasileiro.
A Philcoxia minensis mostrou ser letal com os vermes. O gênero tem espécies em Minas Gerais, na Bahia e em Goiás, que também podem ser carnívoras. Ela esconde sob a areia minúsculas folhinhas grudentas que usa para capturar vermes
A planta carnívora, diferente do que é mostrado nos filmes, não é sempre gigantesca. A maioria delas possui média de 15 cm de altura. Em alguns casos, chegam a ter mais de metro. Como são menores, dão preferência às presas inseridas no universo dos insetos. Daí alguns pesquisadores até chamarem esse tipo de espécie de insectívora. As chamadas de Nepenthes são maiores e podem capturar animais de maior porte. Mas, não há condições de se alimentarem de pessoas.