Disseminado entre produtores e colecionadores de plantas como um produto milagroso, o bokashi vem conquistando cada vez mais adeptos no Brasil. “0 nome em japonês significa farelos fermentados, indicando a composição do famoso adubo”, explica o engenheiro agrônomo Roberto jun Takane, professor de floricultura da Faculdade Cantareira, de São Paulo, SP.
Trata-se de um composto orgânico feito com diversos tipos de farelos de cereais como arroz, trigo e soja, fermentados por microorganismos benéficos que fornecem diversos tipos de micro e macronutrientes à planta. A partir dessa composição básica, cada produtor pode acrescentar diversos ingredientes, a fim de encontrar o produto ideal para cada tipo de cultura. Isso mesmo: há bokashi para orquídea, bonsai, bromélia, hortaliças e plantas ornamentais, sendo que cada composição procura fornecer à planta o que ela mais precisa.
Takane faz experiências com diferentes misturas a 12 anos e explica que há dois processos diferentes de fabricação. No método aeróbio, os farelos misturados passam pelo processo de fermentação ao ar livre. Nesse caso, além da produção de mau cheiro, a dispersão de nitrogênio é muito grande. Ele defende o uso do processo anaeróbio, no qual a mistura fica acondicionada em sacos plásticos resistentes que retêm o nitrogênio.
Além de funcionar como adubo, o produto também tem ação fungicida. “Os microorganismos benéficos incorporados impedem a proliferação dos fungos que causam doenças nas plantas”, defende. Outra grande vantagem é o baixo custo do bokashi em relação aos produtos químicos à base de nitrato, os famosos NPK. Takane revela que 1.000 litros do bokashi custam por volta de R$ 130.
0 surgimento de bolor indica ação correta dos fungos do bokashi, responsáveis pelo fornecimento de fósforo e nitrogênio às plantas.
Composição do bokashi tradicional
50% de farelo de arroz
20% de farelo de soja
15% de casca de arroz carbonizada
10% de farelo de trigo
Para cada tonelada do produto deve-se adicionar:
1,5 l de água
1,5 kg de açúcar cristal ou mascavo
1,5 l de microorganismos favoráveis (EM)
10 g de sulfato de potássio diluído em água
Como fazer – Apesar de parecer simples, a produção do bokashi é lenta e cheia de detalhes. Primeiramente, devem-se misturar os farelos de arroz, trigo e soja com a casca de arroz carbonizada (1) (2) (3), até que fiquem bem homogêneos. “0 carvão é muito importante para o controle da acidez”, explica Takane.
Em seguida, adiciona-se a água, com pH 5,5. 0 profissional não recomenda o uso de água de torneira, mas, caso essa seja a única opção, aconselha que permaneça em um recipiente até o cloro evaporar. Em seguida, acrescentam-se os temperos: açúcar cristal ou mascavo, sulfato de potássio e o EM (microorganismos eficazes) diluído em água (4). Para finalizar, o engenheiro agrônomo coloca uma pequena quantidade de lactobacilos. 0 composto é misturado e, antes de embalar, é preciso conferir sua consistência, que não pode ser muito pastosa. “0 ponto ideal é quando conseguimos modelá-la com as mãos sem que libere água”, esclarece.
Aliado ao baixo custo do produto, a dificuldade do processo faz com que as pessoas prefiram comprar o produto industrializado, vendido em casas de artigos para jardinagem, orquidários e lojas de produtos naturais.
0 acondicionamento é um passo muito importante. Takane recomenda o uso de sacos resistentes (5), como os de ração para animais, que não podem ter furos. Após ensacar a mistura, aperte bem a embalagem para retirar o máximo possível de ar e deixar o produto bem compactado.
Feche a boca do saco com fita adesiva, vedando, também, os possíveis furos (6). A partir da embalagem, mantenha o produto fechado por vinte dias em local seco e longe de animais. “Por ser fonte protéica, cães, gatos e outros bichos podem ingerir a mistura”.
Quando for abrir o saco, certifique-se de que ele libera um leve odor de álcool, sinal que a fermentação teve êxito, e de que contenha bolor por cima, indicando ação correta dos fungos. “São eles que vão liberar o fósforo e nitrogênio para as plantas.” Ao aplicar nos vasos, verifique se o mesmo bolor é formado.
Bokashi pronto para ser usadom
Como usar? O bokashi é um adubo de liberação lenta, que deve ser aplicado a cada quatro ou cinco meses. “Durante esse período, o produto libera o nutrientes aos poucos”, garante Takane. Um cuidado importante na manutenção é evitar o uso de fungicidas bactericidas. “O segredo da composição é a presença do microorganismos. Ao aplicar produtos de combate, eles serão dizimados e o adubo perde seu efeito”, alerta.
No momento de aplicar, não exagere na dose. “Meia colher de sopa, colocada na borda do vaso, longe da planta, é mais do que suficiente para o bom desenvolvimento.” Usar quantidade maior do que a indicada pode deixar as folhas amarelas e, em casos mais graves, culminar na perda do exemplar. Takane ensina que não se deve usar o produto no período de floração.
A única desvantagem do bokashi é o eventual aparecimento de lesmas. Fique atento aos sintomas, como brotos e folhas comidas.
Microorganismos eficazes – EM é a sigla para microorganismos eficazes. A emulsão produzida pelos adeptos da Igreja Messiânica, reúne 116 tipos de microorganismos benéficos que ajudam no desenvolvimento saudável das plantas.