Existem muitas discussões sobre adubação por parte dos colecionadores. Cada um tem sua “receita de sucesso” ou muitas vezes as pessoas esperam que novos produtos indicados façam milagres pelas suas plantas. Não há milagres na orquidofilia.

O que funciona bem para alguns pode não funcionar para os outros ou até mesmo piorar a condição de cultivo. Cada colecionador tem que adequar seu cultivo às condições do seu orquidário, ao clima da região, aos substratos utilizados, à qualidade da água, ao adubo e forma de adubação. A adubação é muito importante, mas é somente um, dentre vários fatores necessários para um bom cultivo e floração das orquídeas.

Abaixo alguns conhecimentos “práticos” adquiridos e com o objetivo de ajudar o colecionador com relação a complexidade do assunto.

Adubos  Orgânicos x Químicos.
Os adubos podem ser divididos em dois principais grupos: Adubos orgânicos e adubos químicos. Alguns exemplos de adubos orgânicos: Torta de mamona, farinha de osso, Bokashi, estercos, etc.    No caso de adubos químicos  temos inúmeras formulações de adubos do tipo “N-P-K”.

Principais características de cada tipo de adubação:
Adubação orgânica
Mais simples.
Mais barata.
Não requer conhecimento especializado.
Não possuem “garantias” dos nutrientes (composição geralmente não divulgada).
Geralmente na forma de pó (ou granulado), sendo depositado diretamente nos vasos das plantas ou misturado ao substrato.
Necessita decompor para liberação de nutrientes (demora maior na disponibilização de nutrientes para absorção pelas plantas).
Fonte de fungos e bactérias, causando mau cheiro e  aumentando incidência de “podridão” no sistema radicular.
Acelera decomposição do substrato.(maior necessidade de replantes) e reduz aeração nas raízes.
Absorvida somente pelo sistema radicular quando aplicados diretamente no substrato.

Adubação química
Mais eficiente.
Geralmente produtos importados (difícil aquisição) – maior custo.
Requer maior conhecimento para utilização de formulações e dosagens corretas.
Permite controle total sobre nutrientes a serem disponibilizados para as plantas.
Deve ser completamente dissolvido em água e pulverizado em toda a planta.
Necessita de instrumentos para pesagem ou dosagem precisa do adubo.
Nutrientes imediatamente disponíveis para as plantas.  Não é necessário decomposição do adubo.
É uma adubação “limpa”.
Não provoca deterioração prematura do substrato.
Absorção pelo sistema radicular e foliar.

Atualmente os adubos orgânicos são largamente utilizados devido à simplicidade de uso e benefícios obtidos.  A real superioridade dos adubos químicos é minimizada devido à falta de conhecimento técnico e uso de formulações inadequadas.

Macro e Micronutrientes
Macronutrientes são os principais elementos necessários para o metabolismo das plantas.  Na composição dos adubos químicos, eles estão presentes em maiores percentuais.
São eles: Nitrogênio (N), Fósforo (P), Potássio (K), Cálcio (Ca) e Magnésio (Mg)

Micronutrientes são elementos em pequenas proporções, entretanto também muito importantes para as orquídeas.
Dentre eles: Manganês (Mn), Ferro (Fe), Boro (B), Cobre (Cu), Zinco (Zn), Molibdênio (Mo) e  Enxôfre (S).

Importante: Poucos adubos possuem Cálcio e Magnésio em sua formulação.   São dois elementos de vital importância e quando necessário, devem ser “aditivados” ao adubo, já na forma diluída, para evitar reações químicas entre eles.  Existem no comércio bons produtos com composição específica de Ca ou Mg.

N-P-K
O “N-P-K” corresponde aos respectivos percentuais dos elementos Nitrogênio (N), Fósforo (P) e Potássio (K) na formulação do adubo.  Estes são os três principais elementos necessários para as plantas.

Adubos com maior teor de N são indicados para crescimento.  Exemplo: N-P-K = 30-10-10.  Adubos com N-P-K equilibrado (Exemplo: 20-20-20) são utilizados para uso geral ou “manutenção” e adubos com baixo N e alto P (Exemplo: 10-30-15) são indicados para floração.

Na prática, vários orquidários geralmente possuem uma “mistura” de plantas em crescimento, plantas florindo, plantas em descanso e seedlings no mesmo ambiente, o que torna uma adubação diferenciada muito complicada.  Nestes casos é recomendado um adubo com N-P-K equilibrado, que atende todos os casos de forma genérica.

Os adubos não devem ser analisados somente pelos percentuais de N-P-K.  Todos os demais componentes são fundamentais para a planta em seus respectivos percentuais.

Nitrogênio (N)
É considerado o mais importante elemento para as plantas.  Existem três formas de N. São elas: Nítrico (NO3-), Amoniacal (NH4+) e Amídico (Uréia CONH2).

Muitos fabricantes informam a origem do N na embalagem do adubo (geralmente os mais sérios ou nos produtos de uso profissional).  Os adubos podem possuir diferentes combinações das três formas de N em sua formulação.

Adubos para orquídeas não necessitam possuir Uréia como fonte de N uma vez que as regas subseqüentes à adubação “lavam” a Uréia antes que ela se decomponha nas formas Nítrica e Amoniacal.

Equilíbrio entre elementos:
Os componentes de um adubo devem possuir um equilíbrio entre si (“Balanço”).  O excesso de um nutriente pode induzir a deficiência de absorção de outro.

Dosagem do adubo:
A análise somente do percentual de cada elemento do adubo não reflete a quantidade deste elemento que será disponibilizado para a planta.  A quantidade de cada elemento depende também da dosagem de adubo diluído na solução (Exemplo: gramas de adubo por litro de água (g/l) ou mililitros de adubo por litro de água (ml/l)).  A combinação do percentual de cada componente com a dosagem do adubo proporciona a real quantidade de cada elemento a ser disponibilizada.    Essa medida pode ser expressa em PPM (Partes Por Milhão) e é a forma correta de se analisar o quantitativo de cada nutriente sendo disponibilizado para a planta.

As orquídeas necessitam de aproximadamente 150 PPM de Nitrogênio (valor obtido na prática) quando em fase de crescimento, entretanto na fase de descanso ou floração esta quantidade deve ser reduzida.

A grande maioria dos adubos possui composição tal que geralmente uma dosagem de 1 (uma) grama por litro de água (ou 1 ml por litro de água para os adubos líquidos) é adequada para a maioria das orquídeas.

Para os adubos orgânicos tipo torta de mamona ou Bokashi, geralmente é aplicada uma colher de sobremesa cheia por vaso.  A quantidade deve ser reduzida para vasos menores.  O adubo deve ser posicionado de preferência mais próximo à borda do vaso.

EC – Condutividade Elétrica
Os adubos químicos, quando dissolvidos em água formam uma solução salina (água + sais da adubação).  Estes sais da adubação são os próprios elementos da composição do adubo.

Quanto mais forte a concentração do adubo diluído na água, maior a concentração destes sais, entretanto maior a dificuldade de absorção dos nutrientes.   Em casos extremos de alta concentração de adubo, a planta perde água para o meio (desidrata) e pode ser levada a morte.

O aparelho chamado “Condutivímetro” ou medidor de condutividade elétrica (EC Meter) é utilizado para a medição de concentração de sais.  Alguns cultivadores utilizam a medição do EC final da solução em substituição à pesagem do adubo.

Geralmente a unidade de medida do EC é  “mS/cm” (miliSiemens por centímetro).
Para orquídeas recomenda-se um EC ideal = 1,0 mS/cm  e EC máximo de 1,4 mS/cm.

Importante: Muitas orquídeas não toleram altas concentrações de adubo (exemplo: Masdevallia).  Estas plantas devem ser separadas para adubação à parte.

Qualidade da Água:
A qualidade da adubação está diretamente associada à qualidade da água.  A quantidade de sais presentes no adubo é complementada pela quantidade de sais presentes na água.   Em uma abordagem detalhada, a quantidade de cada nutriente disponível para a planta (em PPM) deve ser a soma dos nutrientes do adubo e da água utilizada.

Na maioria das regiões as águas são pobres em sais e sua composição pode ser desprezada, entretanto, em regiões de solos calcários (exemplo: Bonito-MS) a água rica em sais (Carbonato de Cálcio), também chamada de “água dura” afeta drasticamente a composição da solução final do adubo.   Nestes casos o adubo deve ser balanceado de tal forma a compensar o excesso de sais já presentes na água.  Em casos extremos, a água deve ser tratada para remoção do excesso de sais antes de ser utilizada nas orquídeas.

Outro fator importante é a acidez da água utilizada.   Esta deve possuir pH em torno de 6,5 (ligeiramente ácida).  Na grande maioria dos casos não é necessária nenhuma correção do pH.
Uma forma prática e econômica para se contornar problemas de qualidade de água é a armazenagem e utilização de água de chuva (ideal).

Importante: Os nutrientes do adubo somente são absorvidos via úmida, ou seja, é necessária a presença de água para que a planta consiga absorver os nutrientes.

Periodicidade da adubação:
Adubação química:As plantas podem ser adubadas a cada rega (adubação contínua), ou em intervalos de regulares de tempo.

Adubação contínua x intermitente:
Adubação contínua
- Adubação em cada rega;
- Absorção mais eficiente (adubo em doses pequenas, mas sempre disponível);
- Em escala profissional, exige equipamentos especializados (dosador e medidor de EC);
- Mais trabalhosa.

Adubação intermitente
- Adubação periódica (semanal, quinzenal ou mensal);
- Adubação em doses maiores (maior desperdício de adubo);
- Mais prática;
- Menor investimento em equipamentos.

Recomenda-se uma periodicidade semanal (ideal) ou no máximo quinzenal entre adubações intermitentes.  A regularidade dessas adubações é fundamental.

Adubação orgânica: Geralmente a aplicação é feita em intervalos de dois ou três meses.

Observações importantes:
. Fertilizantes para uso em solos não são adequados para as orquídeas.  Usar sempre um fertilizante solúvel de alta pureza e de preferência, indicado por orquidófilos experientes.
. Usar a dosagem corretas e seguir um plano de adubação (periodicidade). Deve ser escolhido um dia da semana para a adubação;
. No caso de cultivo em telado, reprogramar a adubação de acordo com a previsão de chuvas, caso contrário, existe risco da chuva  “lavar” as plantas recém adubadas.
. Aplicar o adubo imediatamente após diluição do mesmo na água;
. Adubar sempre à tardinha (as orquídeas se alimentam à noite);
. Adubar raízes e folhas (principalmente parte inferior);
. Reiniciar regas somente 48 horas após adubação;
. Manter umidade relativa elevada no orquidário;
. Não adubar plantas “com sede” (desidratadas);
. Não adubar plantas doentes ou recém replantadas.  Somente adubar quando iniciarem brotação ou enraizamento novo;
. Observar período de descanso de determinadas espécies.  Nessa época não adubar (ou reduzir adubação). (exemplo: C. nobilior);
. Não misturar adubos com defensivos;
. Fechar (lacrar) bem a embalagem do adubo. Os adubos químicos são higroscópicos (absorvem água) e perdem suas propriedades caso isto ocorra.

Remoção do excesso de sais de adubação:
É importante a realização da “lavagem” do substrato entre as adubações ou a cada duas adubações. Neste caso as plantas devem ser copiosamente regadas (“lavadas”) com água abundante (mas não em jato forte).

Este procedimento é importante, principalmente em orquidários com cobertura plástica (protegidos da chuva). A vantagem é que o excesso de sais da adubação é removido, as raízes são oxigenadas e eventuais toxinas são removidas do vaso. Apesar do aumento no consumo de água, as plantas agradecem muito.