O atendente da floricultura pode até te responder, mas posso lhe afirmar, com certeza, que não existe um regime certo que se encaixe com uma determinada espécie, por todo o sempre e em qualquer estação ou clima.
Mas não se desespere, entendendo como a água funciona dentro da planta, na terra e no ambiente, fica bem mais fácil irrigar da maneira correta sempre. Afinal, não tem nada mais frustrante que matar afogada aquela linda orquídea que você pagou os olhos da cara na exposição, ou deixar à mingua aquela suculenta fofíssima, com sede (afinal te disseram que ela é de deserto).
Primeiramente vamos lembrar um pouquinho do “Ciclo da Água”, das aulas de ciências: De modo lento e gradual, à temperatura ambiente, ocorre a evaporação, isto é, a água passa do estado líquido para o gasoso.
Quanto maior for a superfície de exposição da água, maior será o nível de evaporação. Quando chove ou quando irrigamos, a água do substrato é absorvida pelas raízes das plantas. A transpiração, é a forma com que as plantas eliminam água no estado de vapor para o ambiente, principalmente pelas folhas.
Vamos entender essa teoria para a nossa realidade prática:
A água evapora à temperatura ambiente: Ou seja, mesmo que a gente não faça nada e a planta pare de transpirar, a água do vaso continua se perdendo para o ambiente ao longo de todo tempo.
A temperatura ambiente é muito variável e influencia na velocidade com que a água evapora. Assim sendo, se está calor a água se perde bem mais rápido do que se está frio. O vento também influencia aqui. Se há vento, a água evapora bem mais depressa do que quando está sem vento.
Quanto maior à superfície, maior a evaporação: Essa vale para o substrato, para o tamanho da boca do vaso (em relação com a profundidade) e para a quantidade e tamanho das folhas das plantas. Um substrato leve, com alta granulometria, como é o substrato de orquídeas, suculentas, bromélias, violetas, samambaias, etc. evapora bem mais depressa do que um vaso com terra pura e compacta.
Por isso, devemos atentar que estes materiais também tenham boa capacidade de reter água em seu interior, para liberar gradualmente às plantas. É o caso da fibra e casca de coco, casca de pínus e vermiculita.
Vasos com a boca grande e pouco profundos também evaporam mais depressa que vasos altos e estreitos. Isso porque a superfície de substrato que está em contato com o ar para evaporar é bem maior. Pense nisso ao escolher o vaso para suas plantas.
Folhagens viçosas e tropicais, com abundantes e largas folhas, como calatéias, lírios da paz, samambaias, helicônias, etc. tem uma superfície de evaporação muito maior que um avelóz ou uma eufórbia, que tem nenhuma ou poucas folhas.
Assim, o tamanho e a forma das folhas ajuda a denunciar a necessidade de regas de uma planta.
* folhas pequenas, estreitas, suculentas ou poucas folhas – pouca necessidade de água
* folhas grandes, largas, finas e abundantes – muita necessidade de água.
Ao deixar que a água evapore pelas folhas, as plantas estão transpirando. Isso ocorre em maior ou menor grau, de acordo com a quantidade de água disponível, com a luz, com a temperatura, com o estado fisiológico da planta, entre outros fatores.
Ou seja, em dias quentes, suas plantas vão transpirar mais que em dias frios. De dia se transpira mais que à noite e quando tem mais água, elas se permitem transpirar mais do que quando há pouca água.
Por isso, que muitas espécies fisiologicamente murcham ou enrolam as folhas quando está muito quente, assim elas perdem menos água. É o caso da aboboreira por exemplo.
Além disso, plantas de sol pleno precisam de muito mais água que plantas de sombra. A transpiração tem a função de evitar um superaquecimento das plantas.
Ao perder água na evaporação, ela perde energia na forma de calor, resfriando-se da mesma forma que fazemos quando suamos em um dia quente e ensolarado.
O corredor ventoso e o ar condicionando também fazem as plantas precisar de mais água. Atente para isso ao escolher e irrigar as plantas nestes locais.
O clima
Outra informação fundamental para saber como e quando regar uma planta é o clima de sua origem. Hoje em dia, temos em nosso jardim uma mistura de plantas que vem de diversos climas.
Procure pesquisar de onde vem cada uma das suas plantas para entender como irrigar. Aqui as aulas de geografia vão ajudar. (então o cara da floricultura estava certo quando me disse que a suculenta era do deserto!). Sim, ele estava certo! Mas ele esqueceu um detalhe importante: No deserto as plantas tendem a ter raízes longas, e assim podem captar água de camadas mais profundas do solo, o que não ocorre no vasinho de suculenta.
Analise além do clima de origem, o clima de destino, e as particularidades da espécie e a luminosidade requerida. Quanto mais informações você tiver, melhor.
Plantas de habitat semi-aquático, plantas de clima tropical muito úmido: Gostam de ter seu substrato mantido úmido. Apenas evite encharcar muito o substrato para que ele se mantenha arejado. Ex. Samambaias, chifres de veado, ráfis, bananeiras, helicônias, etc.
Clima Tropical: Irrigue com frequência alta o ano todo, molhando bem vasos e canteiros. Espere secar entre as regas. Orquídeas, Filodendros, Bromélias, Fênix, Cica
Clima Temperado: Irrigue regularmente na primavera e verão. Reduza as regas no inverno. Se a planta entrar em dormência (bulbosas, decíduas) suspenda as regas ou mantenha no mínimo possível. Ex: Roseiras, Amarílis, Lágrima-de-cristo, Hortênsia, Glicínia
Clima Mediterrâneo: Irrigue regularmente, sem encharcar nunca. Reduza as regas no inverno. Use substrato perfeitamente drenável. Ex. Alecrim, Sálvia de Jardim, Endro, Madressilva
Clima Semi-árido: Irrigue de forma esparsa, conferindo sempre se a terra está seca entre as regas. Ex.: Rosas-de-pedra, Cactáceas, Folha de prata, Suculentas
Uma planta murcha e seca pode estar com sintoma tanto de excesso como de falta de água. Na dúvida coloque o dedo na terra.
Consequências de excesso de água
* Surgimento de doenças fúngicas como ferrugem, antracnose
* Apodrecimento das raízes (comum em bulbosas e plantas com pratinho)
* Carência de nutrientes (por lavagem do substrato)
* Apodrecimento do broto apical (muito comum em pata-de-elefante)
* Apodrecimento do caule (comum em cactáceas)
* Morte Súbita
* Murchamento e escurecimento das folhas
* Pintas negras nas folhas
* Cogumelos no substrato
* Raízes curtas e pouco resistentes à estiagem (comum em gramados)
* Infestação por pragas
* Moscas e mosquitos no solo
Consequências de falta de água
* Folhas frequentemente enroladas ou murchas
* Raízes secas e quebradiças (orquídeas)
* Crescimento deficiente
* Folhas amareladas
* Pontas das folhas secas
* Murchamento de folhas suculentas (rosas-de-pedra)
* Folhas enrugadas
* Frutificação fraca ou inexistente
* Ausência de floração
* Floração precoce e insatisfatória
* Abortamento floral
* Acúmulo de sais e adubos na superfície do solo e borda do vaso
Uma regrinha de ouro, que resume parte do que foi explicado, unindo bom senso e praticidade é enfiar o dedo na terra. Isso mesmo, coloque o dedo nas camadas superficiais da terra do vaso ou canteiro.
Se ao toque, a terra estiver seca, regue, caso contrário, espere até o outro dia para verificar novamente. Essa regra vale para a maioria das plantas.