Quando iniciamos no cultivo de orquídeas é sempre um susto se deparar com uma manchinha na folha da sua orquídea. O que mais se houve das pessoas é que deve ser fungo e eles são inimigos das orquídeas, e que podem matar a planta se conseguirem contaminar ela, enfim sempre as piores possibilidades.
Passar a informação dessa maneira acaba se tornando algo que mais prejudica do que ajuda sendo o mais comum, ver o lado ruim primeiro…
Se a semente de uma orquídea não tiver a ajuda de um tipo de fungo chamado micorriza, seria impossível germinar em meio natural e mesmo que isso ocorresse fatalmente não vingaria, pois no começo da vida de uma plântula a relação dela com o fungo é essencial para a vida dos dois, e à medida que a planta cresce essa relação fica nas raízes e é totalmente controlada pela planta, que mantém o fungo na parte externa sem acesso a raiz.
Quando uma planta é prejudicada por um fungo, é porque ele conseguiu passar a proteção natural da planta. Isso pode acontecer em determinadas situações, como uma deficiência nutricional que debilita a proteção natural da planta ou por algum fator externo relativo ao ambiente de cultivo que dificulta a planta conseguir vegetar com qualidade.
Além disso, as pragas que atacam as plantas como a cochonilha, pulgão e caracol costumam deixar a planta com feridas por onde o fungo pode entrar e atacar.
As folhas das orquídeas são vitais para que a planta consiga vegetar com qualidade. Saber observar, e o que observar fica mais fácil para avaliar e identificar sua planta e é o segredo para acertar na hora do cultivo.
Sabendo avaliar a planta visualmente pelas folhas, raízes e bulbos é possível acertar ao escolher o vaso, o substrato e o local para elas com mais segurança, errando menos!
Quando o assunto é orquídea cada parte tem sua complexa função para poder se adaptar aos variados habitats pelo mundo afora e também as praticas de cultivo, substratos e vasos usados pelos orquidófilos. Enfim um mundo novo para se conhecer.
A folha de uma Orquídea
Na botânica se definem as folhas como órgãos das plantas, responsáveis pela captação de luz e também pelas trocas gasosas (a respiração da planta) e dessa forma a planta consegue realizar a fotossíntese produzindo energia para crescer e florir.
A folha de uma orquídea é o principal órgão de respiração da planta, mas outras partes também ajudam como as raízes, por exemplo.
Nas camadas superficiais de uma folha recobrindo suas partes internas existe a epiderme, que é uma camada de células transparentes que por sua vez é recoberta por uma cutícula de um material semelhante à cera que reduz a perda de água por transpiração.
Nas plantas de climas áridos essa cutícula pode ser tão espessa que dá às folhas uma consistência coriácea, como na folha de uma Cattleya aclandiae nativa da Bahia ou a Cattleya walkeriana do centro-oeste brasileiro.
As folhas das orquídeas variam muito em tamanho, forma e consistência. Podem se apresentar de varias formas: acicular; linear; oblonga; elíptica; lanceolada; ovalada; obovada; cordiforme; triangular; entre outros. Devido ao processo de adaptação das espécies de orquídea ainda são encontradas outros tipos de folhas.
Com algumas exceções de plantas de climas áridos como as cactáceas, as folhas costumam ser o maior possível a superfície em relação ao volume, de modo a aumentar tanto a área da planta exposta à luz, quanto a área da planta onde as trocas gasosas são possíveis por estar exposta à atmosfera.
Espécies que crescem em locais mais secos podem ter folhas cilíndricas, como exemplo a espécie oncidium cebolleta e octomeria panícula, ou ainda folhas reduzidas a escamas, como em algumas espécies de microorquídeas do gênero Campylocentrum.
Apesar da grande variedade de tipos de folhas, as nervuras centrais caracterizam duas formas principais de folhas apenas, conduplicata e plicata.
As conduplicatas possuem uma única nervura central, são de textura mais coriácea e rígida, como a Laelias, Cattleyas, Phalaenopsis, Denphal.
As plicatas apresentam três ou mais nervuras bem nítidas e são de textura mais delicada, como exemplo os catasetuns, stanhopea, etc.
Nas orquídeas de crescimento monopodial como as Vandaceas, as folhas são dísticas, ou seja, inseridas alternadamente ao longo do caule.
Nas plantas de crescimento simpodial, as folhas se inserem alternadamente ao longo do ramo (Dendrobium, Epidendrum), ou em forma de fascículos como nos paphiopedilum, e nas que possuem pseudobulbos (Cattleya, encyclia, oncidium, Guarianthe), as folhas inserem-se no ápice, em número de um a três.
As trocas gasosas entre a folha e o meio ambiente são efetuadas principalmente através de glândulas chamadas estômatos que ficam na epiderme ocupando toda a superfície da folha, mas em maior quantidade na parte de baixo dela. São formados por duas células em forma de rim ou feijão, que podem controlar a abertura e fechamento permitindo a respiração e a transpiração.
A clorofila, pigmento verde que dá cor as folhas, absorve energia luminosa necessária para que a agua e o gás carbônico possam ser transformados em glicose. Por isso as folhas das orquídeas nascem e ficam dispostas da melhor forma possível para receberem a luz do sol.
Quando se muda uma planta de lugar ela precisa se orientar novamente em relação a luz e até mudar a direção de crescimento, mas para isso gasta energia também. Dentro da folha existem outros pigmentos além da clorofila. No interior das células também se encontram os carotenoides, pigmentos responsáveis pelas cores das flores, como o amarelo e o vermelho, etc.
Eles absorvem energia luminosa e levam até a clorofila, tendo sua importância no processo de fotossíntese. Também protegem as moléculas de clorofila, funcionando como antioxidante.
Quando uma folha fica velha tende a mudar de cor amarelando pelo aumento dos carotenoides e diminuição da clorofila, e quando uma folha é nova, pode apresentar esses pigmentos também de forma a deixar a folha da planta com pintas. A primeira vista causa duvida se é fungo ou não, mas é só a pigmentação natural da planta.
A orquídea será mais resistente ao excesso de luz, quando maiores forem as condições ambientais que diminuem a temperatura do meio, assim, ambiente ventilado, chão molhado e umidade do ar elevada fazem com que as folhas esquentem menos e a planta resista melhor ao excesso de luz.
Os sinais, nas folhas das orquídeas, revelam as causas apresentadas na planta.
A transpiração é um mecanismo através do qual a planta elimina a agua em forma de vapor, fazendo um controle da temperatura, pois ao transpirar a agua retira o calor da superfície da folha, refrigerando-a.
Durante a transpiração existe nas folhas uma força de sucção, provocando a subida da seiva bruta, e dessa maneira a medida que a planta perde agua, a folha retira agua do bulbo e este por sua vez retira das raízes.
Há certo limites de temperatura para um vegetal se desenvolver normalmente e por essa razão, o calor muitas vezes pode ser nocivo tanto por excesso, quanto por falta dele. Há estreita relação entre luz e calor. Quando a luz é intensa, o calor aumenta acelerando as funções da planta, a evaporação é maior e é grande a perda de água pela planta.
Existe uma temperatura adequada para cada espécie de orquídea, quando ela se eleva muito a planta não floresce e seu metabolismo acelera, o gasto de alimento é maior do que a reposição, o crescimento retarda, e numa situação mais extrema as folhas podem amarelar e cair.
Já quando a temperatura ambiente é inferior a desejada, a absorção da água e alimentos se dá de modo lento e a umidade excessiva acompanhada por quedas de temperatura, torna a planta mais frágil e vulnerável ao ataque de pragas e doenças.
Toda planta gosta uma diferença de no mínimo de 8°C a 10°C de temperatura entre os período diurno e noturno. Durante o dia a planta fabrica alimento, respira e cresce. À noite, não há síntese alimentar , mas a respiração e o crescimento continuam.
Em dia ensolarado, com média de temperatura em torno de 30ºC uma maior quantidade de alimentos é fabricada.
A umidade é um dos fatores de maior influencia no desenvolvimento das plantas. Quando insuficiente, provoca o rápido secamento do substrato, as plantas perdem água rapidamente e seus pseudobulbos se desidratam, e as folhas acabam queimando.
Nas Cattleyas, a temperatura ideal diurna gira em torno de 22/25ºC e a noturna de 15/17ºC. Acima e abaixo disso a tolerância diminui gradativamente comprometendo o desenvolvimento da planta.
Em todos os continentes com exceção da Antártica existem espécies de orquídeas, e por esse motivo espécies diferentes de orquídeas possuem folhas diferentes que variam conforme o gênero da espécie, a localização do habitat, o clima do local, etc.
A forma das folhas não tem um padrão, sendo uma característica de cada espécie podendo ter grandes variações no tamanho, na grossura, na textura, e na coloração. Essa grande variação de uma espécie para outra é em virtude de vários fatores existentes no habitat de origem, entre eles a temperatura, luz e umidade. berço da evolução da espécie.
Essa tríade de fatores alheios a qualquer ser vivo é o que mantém a vida de uma orquídea e toda a vida aqui no planeta, por isso tem que ser levado em conta pelo orquidófilo na hora do cultivo, principalmente no cultivo domestico, que é bem diferente de um ambiente natural, mas que pode ser adequado.
As espécies de orquídeas estão em constante evolução e criam maneiras de sobreviver conforme o habitat em que vivem.
As folhas de muitas espécies de orquídeas, como por exemplo, as do grupo das catasetineas e alguns dendrobiuns que conheço, além de outras espécies possuem um tipo de folha que é chamada também de folha caduca ou decídua, isto é, conforme se passam as estações do ano mudam de cor e caem.
Quando vai se aproximando o inverno, época em que existe menos luz e a temperatura é mais baixa durante a noite, a planta vai derrubando suas folhas e fica num estado de metabolismo reduzido se alimentando da reserva nutritiva que tiver acumulado e ainda guarda energia para florir ao final da estação.
Para que ainda não conhece, pode parecer que algo de ruim está acontecendo com a planta, mas é apenas um processo natural do ciclo, muito parecido com o que tem no habitat de origem. é bom lembrar que as folhas que caem não voltam a nascer, mas em vez disso surgem novos brotos que emitiram folhas e farão o mesmo ciclo dos bulbos antigos.
Sabendo dessa característica fica muito mais fácil o cultivo, evitando que por medo de estar acontecendo algo de ruim para a planta acabe tomando uma atitude que “estresse” a planta nesse período como um replante ou mudança de local.
Ainda existem outras partes de uma orquídeasque são folhas modificadas com outras funções na planta, servindo como proteção para as partes da planta como os bulbos em crescimento e os botões florais:
Espata floral
É considerada como sendo uma folha modificada, também conhecida como bráctea, não está presente em todas as espécies e é onde se originam as flores das orquídeas. Sua função é proteger os botões florais em formação.
Pode permanecer na cor verde ou secar e ficar com a cor da palha, que continua tendo a mesma função, podendo a planta florescer de espata verde, ou florescer de espata seca, variando de espécie para espécie.
Bainha da folha
É um tipo de folha reduzida que vai se dividindo e subindo até a altura em que a folha ou as folhas definitivas começam a se formar, antes quando do broto em formação Essa bainha costuma envolver o bulbo e após o crescimento completo, vai secando com o tempo, podendo ser removida pois pode ser um esconderijo de cochonilhas que sugam a planta.
A própria flor também é uma evolução e adaptação das folhas na intenção de atrair o polinizador e sustentar os órgãos reprodutivos masculino e feminino da orquídea.
Mas antes de finalizar gostaria de deixar um quadro abaixo que exemplifica outra situação mostrada na folha de qualquer planta e nas folhas das orquídeas também, que é a deficiência nutricional, isto é, toda orquídea precisa de um mínimo de 3 nutrientes primários encontrados no ambiente que são o oxigênio, o hidrogênio e o carbono retirados do ar, da agua e da luz e ainda 13 nutrientes minerais essenciais que absorvem de adubação que somos nos que fazemos, por isso fique atento.
Dica
Para controle da temperatura em telados ou estufa pode-se lançar mão de um sombreamento maior, regas no chão do orquidário aumentando a evaporação nos horários de maior calor, vaporização de água em forma de névoa que é de melhor absorção e o aumento da ventilação.
Pisos de terra batida, areia e pedriscos aumentam a superfície de evaporação, sendo os mais indicados.